Hubris (Video)

Circus: Fala-nos um pouco de ti.

Hubris: Nunca vivi onde nasci. Não gostei onde cresci. Onde estou agora, sinto que é passageiro. Já tive mais tempo. Hoje ando sem ele. Vou ter que responder com rapidez. Sei governar, mas não me sei governar. Começo a perceber o que da minha forma de ser, vai ficar comigo até ao fim. Não gosto de festas com multidões. Gosto de abreviaturas na escrita e smileys, mas não costumo usar. Lá fora aprendi o que é ser Português, e é muito bom. Deixo sempre um resto de bebida no fundo do copo. Café e chá é sem açúcar. Não gosto de mentir. Não gosto de surpresas.

Circus: Porquê “Hubris”? Tens um orgulho desmedido do teu trabalho?

Hubris: Não, pelo contrário. Mas gosto da forma como os extremos se balançam. Considero-me pacato, então atiro para o outro lado. Para além disso, gosto da conotação sexual e criminal clássica: todos nós estamos em constante efervescência, bem sob a pele, com os nossos próprios limites morais. Nada expressa melhor essa tensão do que a sexualidade.

Circus: O teu trabalho não é próprio para epilépticos. Não sentes que estás a menosprezar essa fatia de mercado?

Hubris: Antes de mais, a velocidade fascina-me, é maior do que eu, e o silêncio perturba-me, é demasiado violento. Por isso, gosto de fechar muito em pouco espaço e tempo, e deixar sob pressão. Depois, nunca vou conseguir controlar, nem quero, a experiência do espectador. Cada um tem o seu ponto de observação. Então, quando trabalho, só penso nessa pressão, não penso em público. Desta forma, nem sinto que dou, nem sinto que não dou valor. Simplesmente não me pertence.

Circus: Sei que a música electrónica te influencia directamente. Em que sentido?

Hubris: Na maioria da música electrónica que oiço o que mais me atrai é uma sensação de que estou a ouvir algo que não é suposto. Todos os “ruídos de maquinaria” aparentam conter em si uma carga negativa. São quase não-sons porque não podem ser colocados numa escala clássica. Soam “mal”, soam ao que o meu computador deveria soar se encravasse magistralmente. Quando trabalho para o meu umbigo, é um pouco isso que sigo. Mas não por rebeldia activa, simplesmente não me quero dar ao trabalho de procurar uma categoria para as coisas. A racionalização retira, neste caso, grande parte do prazer.

Circus: Qual é o teu maior desafio enquanto artista?

Hubris: Talvez tentar, um dia, fazer o “belo”. Até hoje só fiz coisas feias, mas gosto disso. Gosto de sujidade. Suspirar por algo doce é mais interessante do que o doce em si. O desejo é o motor. O desafio deve ser manter o desejo.

Circus: Imagina o teu emprego de sonho e descreve-nos o teu escritório e que animais escolherias para guardiões das portas do mesmo.

Hubris: Um emprego não pode ser de sonho, porque assim não há problemas. Os problemas e a sua tentativa de resolução é que fazem isto valer a pena. O gozo está no combate. Por isso o meu escritório estaria cheio de pessoas de todas a áreas. Adoro trabalho em (boa) equipa. Escolheria animais amorosos e ainda recém-nascidos (o Youtube deve ter as guias para isso) – penso que isto iria convidar mais pessoas a entrarem.

Circus: Como é que te vais mascarar dia 1 de Junho?

Hubris: Se fosse de urso, quase que não precisava de máscara.

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